Os trilhos que trouxeram o progresso a Londrina

A história do Norte do Paraná e de Londrina seria muito diferente se não fosse a estrada de ferro que ligava a região a Ourinhos, e daí a São Paulo e o restante do país.

Quando os colonizadores ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná compraram 515 mil alqueires de terra do Governo do Estado, a partir de 1925, adquiriram também a pequena ferrovia que ligava Ourinhos a Cambará, implantada em 1923.

A partir de Cambará, a Cia. Ferroviária Norte do Paraná chegou a Jataí, em maio de 1932, e a Londrina, em 28 de julho de 1935.

De percurso muito sinuoso, a ferrovia era o principal meio de ligação de Londrina com o Estado de São Paulo, em uma época de poucas e péssimas estradas de rodagem. Se por um lado a terra vermelha da região era excelente para a agricultura, por outro era terrível para as estradas de rodagem não pavimentadas. Se não era a lama, era a poeira fina e penetrante que infernizava os viajantes.

O asfaltamento das rodovias diminuiu a importância da ferrovia, e essa fase coincidiu com o sucateamento generalizado do transporte ferroviário no Brasil, a partir da década de 1950. Os trens perderam então a importância que tinham nas décadas anteriores.

Em vez de trazer o progresso, a linha férrea agora dividia a cidade, em uma parte mais rica, acima da linha, e a  parte mais pobre, abaixo da linha. Depois de muita pressão dos moradores, a via férrea foi finalmente removida do centro da cidade em 1982, substituída por uma variante na zona norte, que hoje também já foi envolvida pela cidade.

Na foto acima, de José Juliani, pode-se ver a primeira locomotiva a chegar a Londrina, a pequena locomotiva de manobras à esquerda da foto. Essa máquina chegou a Londrina antes da construção da ponte sobre o Rio Tibagi, construída na mesma época em que os trilhos chegavam a Londrina, e inaugurada no mesmo dia, 28 de julho de 1935.

A locomotiva atravessou o rio por um cabo de aço, suspenso acima das obras da ponte, assim como alguns vagões, para apoiar as obras de construção da ferrovia a partir de Jataizinho, como se pode ver na foto abaixo, do acervo de Francisco de Almeida Lopes.

A primeira estação ferroviária de Londrina foi construída em madeira, como se pode ver na primeira foto desse artigo. O grande pátio de manobras ficava entre as Ruas Heimtal  (atual Avenida Duque de Caxias) e Pernambuco. Um armazém de cargas foi construído ao lado da estação, em alvenaria.

As ruas Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso não transpunham o pátio, e as passagens de nível nas ruas Heimtal e Pernambuco por vezes ficavam fechadas por trens em manobra.

Na foto abaixo, de Hans Kopf, pode-se ver o pátio de manobras da estação ferroviária de Londrina em 1937. Tinha ainda poucas linhas auxiliares:

A rua em primeiro plano é a Rua Heimtal, atual Duque de Caxias. Paralelamente e abaixo dos trilhos, está a rua Acre. Pode-se ver a estação, o armazém de cargas e alguns armazéns particulares. Atualmente, a Avenida Arcebispo Dom Geraldo Fernandes passa por onde antes passavam os trilhos e o pátio da estação, incorporando inclusive um trecho da Rua Acre.

Na foto acima, também de Hans Kopf, é possível ver a esquina das ruas Heimtal e Benjamim Constant, além da passagem de nível da Rua Heimtal, onde os trilhos já entravam no pátio.

Na foto acima, do início dos anos 50, pode-se ver o pátio cerca de 15 anos depois, já com a nova estação, o armazém bastante ampliado e as linhas repletas de vagões, refletindo o grande progresso da cidade. O transbordo de carga entre os vagões e os caminhões era feito tanto do lado do armazém, onde havia uma rua que servia exclusivamente à ferrovia, quanto na Rua Acre, onde os vagões ficavam parados rente à rua, como se pode ver na foto. É bastante visível na foto a diferença entre as construções acima da linha, onde já se erguiam os primeiros prédios altos, e o casario abaixo da linha, muito mais modesto.

Há muito o que se falar ainda sobre a ferrovia em Londrina, mas isso fica para os próximos artigos.