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terça-feira, 31 de maio de 2011

As antigas estações rodoviárias de Londrina

Ao longo da sua relativamente curta história, Londrina teve nada menos que quatro estações rodoviárias, fora o atual terminal.
Foto: José Juliani
A primeira rodoviária de Londrina foi construída pela Companhia Ferroviária São Paulo - Paraná (SPP), no início dos anos 30. Localizava-se na esquina das ruas Maranhão e Minas Gerais, em frente à atual Praça Willie Davids. Na foto acima, de José Juliani, a rodoviária é o maior prédio, à direita.
Foto: José Juliani
Essa primitiva rodoviária supria a ausência do transporte ferroviário, enquanto a ponte sobre o Rio Tibagi, em Jataí, era construída. Foi construída totalmente em madeira, e dispunha de uma plataforma coberta, um depósito de cargas e uma estação telegráfica. Os ônibus da SPP transportavam os passageiros entre Londrina e Jataí, que desde 1932 era o final da linha para os trens da Companhia.

A Rodoviária atendia tanto os ônibus quanto os caminhões da SPP, enquanto não chegavam os trens.Da mesma forma que a maioria das estações ferroviárias da época, trazia o seu nome escrito no teto, para servir de referência para os aviões do Correio Aéreo Militar, implantado em 1931.

A SPP desativou sua estação rodoviária no mesmo dia em que foi inaugurada a estação ferroviária, 28 de julho de 1935.

Em 1933, o pioneiro Celso Garcia Cid e Mathias Heim, ex-chefe das oficinas da SPP, fundaram a Empresa Rodoviária Heim & Garcia, com capital de 100 Contos de Réis, e obtiveram em 15 de janeiro de 1934 a concessão para explorar as linhas de Londrina para Arapongas, Nova Dantzig (atual Cambé) e Rolândia.
Celso Garcia Cid e seu "novo" ônibus, logo após ser convertido (foto: José Juliani)
Celso Garcia Cid prestava serviços para a SPP, transportando cargas diversas, principalmente dormentes ferroviários, em seu caminhão. Esse caminhão foi rapidamente convertidos em um ônibus, chamado popularmente de "jardineira", em Londrina, em 1934 (foto acima, de José Juliani), para assumir as linhas de passageiros. O primeiro ônibus de Celso Garcia Cid, batizado de "Catita", foi preservado e existe até os dias de hoje, no acervo do Museu da Viação Garcia.
Foto: José Juliani
Com a iminente desativação da rodoviária da SPP, a empresa Heim & Garcia construiu, em frente à estação da SPP, uma nova rodoviária, na atual Praça Willie Davids, bem em frente aos escritórios da Cia. de Terras Norte do Paraná (foto abaixo, de José Juliani). 
foto: José Juliani
Essa rodoviária era muito simples, na verdade uma simples parada de ônibus coberta, com pilares em alvenaria, e atendia exclusivamente passageiros, não dispondo nem de armazém de carga e nem de estação telegráfica. Sua inauguração se deu no mesmo dia da desativação da rodoviária da SPP e da inauguração da estação ferroviária.
foto: José Juliani
Tanto a sociedade entre Heim e Garcia quanto a nova rodoviária tiveram vida bastante curta. O pessimista Mathias Heim não via, na verdade, muito futuro para uma empresa rodoviária no meio do sertão, que não dispunha de estradas adequadas. Como vinha do meio ferroviário, considerava os trens muito mais práticos e confiáveis.

Finalmente, em 1º de fevereiro de 1938, Heim vendeu sua participação na sociedade para José Garcia Villar, e a empresa passou então a se denominar Empresa Rodoviária Garcia & Garcia.

Praticamente na mesma época, a rodoviária foi transferida para a Praça Primeiro de Maio, no local onde hoje se encontra a Concha Acústica.
foto: Carlos Stenders
A nova rodoviária (foto acima), a terceira de Londrina, era tão simples e acanhada como a anterior. Com o aumento da demanda pelos ônibus, mesmo durante o racionamento de gasolina imposto pela Segunda Guerra Mundial, a rodoviária vivia superlotada e nunca deu conta de atender à população adequadamente. Na verdade, era uma estrutura claramente provisória (foto abaixo, de Yutaka Yasunaga - acervo do Foto Estrela).
Foto: Yutaka Yasunaka
Após o duro período da Guerra, Londrina e toda a região renasceram com muito mais vigor do que antes. Os ingleses venderam a CTNP e a SPP para novos donos, brasileiros, e foram embora para defender sua nação dos inimigos nazistas, durante a Guerra.

Com o fim da Guerra, houve um crescimento econômico generalizado no mundo, e plantar café virou um negócio espetacular. Os preços subiram rapidamente e fortunas foram criadas quase da noite para o dia. Isso transformou o próprio aspecto da cidade que, de uma cidade poeirenta de casas de madeira, com jeitão de faroeste americano, tornou-se um lugar sofisticado e chique, com direito a modernas e inovadoras construções, assinadas por arquitetos renomados.
De fato, na gestão de Hugo Cabral, na Prefeitura de Londrina, o então Secretário de Obras e Viação, Rubens Cascaldi, convidou o arquiteto João Batista Villanova Artigas para elaborar o projeto da nova estação rodoviária de Londrina. 
Artigas era professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e foi indicado por seu aluno, irmão de Rubens, Carlos Cascaldi que, posteriormente, viria a se tornar seu sócio.
foto: Yutaka Yasunaka
O projeto foi prontamente aprovado e a construção começou ainda em 1949. A inauguração da nova rodoviária, situada no lado sul, e mais elevado, da praça Rocha Pombo, ocorreu em 1952, na gestão do Prefeito Milton Ribeiro de Menezes.
A nova rodoviária de Londrina é um marco arquitetônico notável da cidade e foi uma das maiores obras do grande arquiteto, que viria a criar outras obras em Londrina, como o Cine Ouro Verde, o Edifício Autolon e a Casa da Criança.
A Rodoviária de Londrina integrou-se totalmente à Praça Rocha Pombo, que foi urbanizada, ocupando o espaço entre as estações ferroviária e rodoviária (foto abaixo).
Entretanto, a rodoviária tornou-se totalmente insuficiente para atender a cidade, com o decorrer do tempo. De fato, menos de 20 anos depois de ser inaugurada, já estava saturada.
foto: Yutaka Yasunaka
Em 1976, Londrina elegeu Antônio Casemiro Belinatti como prefeito, e este convida o arquiteto Oscar Niemeyer para projetar uma nova estação rodoviária para a cidade.
foto: Yutaka Yasunaka
Niemeyer elaborou um grandioso, mas caríssimo, projeto, de uma rodoviária de formato circular, com 50 plataformas para os ônibus, contrastando com as sete plataformas da rodoviária anterior.
Iniciadas em 1979, as obras exigiram a demolição das casas da Vila Matos, a antiga zona do meretrício, abaixo da linha férrea que, então , cortava a cidade. Era um espaço urbano central, mas, então, altamente degradado e decadente.
Alguns pilares foram erguidos, assim como algumas vigas da estrutura do teto, mas as obras acabaram sendo abandonadas devido a problemas de custo e falta de verbas. Depois de alguns anos de abandono, o Prefeito Wilson Moreira  alterou substancialmente o projeto, para diminuir o seu custo, substituindo o teto de alvenaria, originalmente previsto, para uma cobertura metálica. A nova rodoviária, batizada como "Terminal Rodoviário José Garcia Villar", foi inaugurada em 25 de junho de 1988. Hoje dispóe de 55 plataformas para ônibus e é uma das melhores rodoviárias do Brasil.
A velha rodoviária permaneceu alguns anos em total estado de abandono, embora tivesse sido tombada como Patrimônio Histórico Estadual desde 1975. Finalmente, em 1993, o edifício foi restaurado e transformado no Museu de Arte de Londrina e, como tal, permanece até hoje.

domingo, 22 de maio de 2011

Quando não era a lama, era o pó...

A famosa terra vermelha que atraiu os primeiros agricultores para o Norte do Paraná é uma das mais férteis do mundo. Entretanto, essa mesma terra vermelha criou alguns dos piores tormentos para os colonizadores.
A terra vermelha, também chamada de "terra roxa" graças aos imigrantes italianos que trabalhavam na lavoura de café, que a denominavam como "terra rossa", é resultado da decomposição de lavas vulcânicas, particularmente do basalto.  Essas lavas se originaram do Derrame de Trapp, talvez o maior derrame de lava conhecido pelo homem, e que ocorreu na Era Mesozóica,  entre 251 e 66 milhões de anos atrás, a era dos dinossauros.
Para os colonizadores, a fertilidade da terra teve um preço: quando Londrina não tinha lama, tinha pó. A terra vermelha seca gera um pó finíssimo, altamente penetrante e que pode ficar suspenso no ar por horas. Por outro lado, quando molhada, gera uma lama altamente aderente e escorregadia.
Devido à presença da mata fechada, a cidade de Londrina tinha um clima muito mais úmido que o atual, e as chuvas eram muito mais frequentes do que hoje. As chuvas transformavam qualquer estrada ou rua em inacreditáveis atoleiros, e mesmo trechos curtos de viagem, como, por exemplo, entre Londrina e Jataí (foto abaixo), podiam levar horas, talvez mesmo um dia inteiro de viagem.
 
Por outro lado, nos curtos períodos de seca, era o pó que infernizava a vida da população, tanto rural quanto urbana. Londrina só começou a ter ruas pavimentadas no final de 1942 (na foto abaixo, a Avenida São Paulo sendo pavimentada) e, mesmo assim, somente as ruas do centro tinham tal pavimentação. 
 
Todas as áreas ao redor do centro continuaram a sofrer com a lama e o pó até a década de 60, quando o Prefeito José Hosken de Novaes providenciou o asfaltamento da maior parte da malha urbana então existente.
Naqueles tempos do pó e da lama, um acessório indispensável era o raspador de barro, instalado na entrada de todas as casas, prédios públicos e lojas. Os ferreiros fabricavam e vendiam modelos em ferro fundido, alguns bem elaborados, com apoio para as mãos, mas muitas vezes tal acessório era improvisado com pedaços de lata e madeira.
O raspador de barro foi apelidado no Norte do Paraná como "chora-paulista". Os paulistas que emigraram para a região, vindos das decadentes fazendas de café paulistas, instaladas em terreno branco e arenoso, sofreram muito com a terra vermelha que aderia aos calçados, criando uma crosta espessa e pesada que quase os impedia de andar, e isso deu nome ao acessório.
Na época do pó, as maiores sofredoras eram as donas de casa. Qualquer trabalho de limpeza das casas e da roupa era arruinado pela poeira muito fina e altamente penetrante, dando a tudo, inclusive às pessoas, uma característica cor avermelhada.

A poeira permanecia no ar por tanto tempo que servia de referência para os pilotos de avião que vinham para a cidade. A poeira levantada pelas hélices no antigo campo de aviação (na foto abaixo, de José Juliani, a "Aviação Velha") sinalizava o aeroporto para os pilotos a uma distancia de quase 50 Km.
As cidades, em geral, tinham sempre um aspecto avermelhado e sujo para quem vinha de fora, como se pode ver na foto abaixo, com as ruas vermelhas em pleno centro da cidade, na década de 60.
A Prefeitura de Londrina, assim como as prefeituras de todas as cidades da região, operavam um tipo de veículo indispensável, o caminhão "aguador". Eram caminhões-pipa, como o da foto abaixo, equipados com pulverizadores, que lançavam água sobre as ruas para tentar "apagar" a poeira.
Nos dias de chuva, era comum os homens se reunirem nos bares que ficavam logo acima da estação ferroviária, para assistirem e zombarem dos tombos que os recém-chegados levavam na lama, ao subir a íngreme ladeira que separava a estação do espigão no centro da cidade.
A pavimentação em asfalto acabou livrando Londrina do aspecto avermelhado, aos poucos, mas até hoje os moradores da região se autodenominam, orgulhosamente, de "Pés Vermelhos", em homenagem à essa terra que fez a riqueza do Norte do Paraná.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O centro de Londrina em outros tempos - III

Estas fotos são das décadas de 60 e 70, e já mostram o centro de Londrina com aspecto mais próximo ao atual.
Esquina da Avenida São Paulo com a Alameda Miguel Blasi, em meados dos anos 70, sem grandes mudanças em relação aos tempos de hoje.
A Alameda Miguel Blasi vista dos fundos da Catedral. As árvores eram mais jovens e mais baixas, e os carros dão uma idéia da época da foto, meados dos anos 70.
O Fórum de Londrina nos anos 70. O prédio hoje abriga a Biblioteca Pública Municipal.
A Avenida Paraná no início dos anos 70, antes da construção do Calçadão.
Este prédio abrigava tanto a Câmara quanto a Prefeitura de Londrina, atá a transferência da Prefeitura para o local onde hoje se encontra a sede da CMTU, na Rua Professor Joâo Cândido, esquina com a Avenida Juscelino Kubitschek. A Câmara permaneceu até os anos 80, e o prédio foi demolido para dar lugar a uma agência do Bradesco. É a esquina das ruas Minas Gerais e Santa Catarina.
A praça Willie Davids e as Casas Fuganti, com o seu letreiro em neon verde, com o "Relojão" ao fundo, anos 70.
O mesmo local, visto de um ponto mais alto, onde se pode ver a atual Catedral ainda em construção. Durante esse período, as missas eram rezadas no subsolo, onde hoje se encontra o estacionamento da Catedral. O ano provável da foto é 1972.
Este grupo de edifícos foram construídos, na sua maioria, na década de 50, mas a foto é de 1972.
A Avenida Paraná vista da Praça Gabriel Martins, no início dos anos 60.
Esta outra vista da Avenida Paraná, quase no mesmo local, já permite ver o Cine Londrina, primeiro cinema de Londrina, dotado da tecnologia Cinerama, com tela côncava e três projetores que funcionavam simultaneamente e sincronizadamente. Infelizmente, o Cine Londrina fechou nos anos 70 e foi demolido, dando lugar a uma agência do Banco Itaú.
A Praça Floriano Peixoto e alguns edifícios, nos anos 70. As antenas de comunicação por microondas, no topo do Edifício Cínzia, o mais alto da época, foram instaladas por um helicóptero por volta de 1969.
A Avenida Paraná no início dos anos 60.
Vista aérea do centro de Londrina em 1969. 
A Avenida Paraná, vista da Praça Gabriel Martins, no início dos anos 70. Em relação às fotos anteriores, dos anos 60, a mudança mais visível é o Edifício Satélite, que abriga a agência central do Banco do Brasil, ao lado do Cine Londrina, que, já na sua fase final, exibia filmes antigos, como Ben-Hur.
Esta é a esquina das ruas Quintino Bocaíuva, Benjamim Constant e Paraíba, com o prédio das Lojas Hermes Macedo em primeiro plano, nos anos 70. O prédio ainda existe, mas hoje abriga um templo evangélico.
Vista aérea de Londrina em 1979. Em relação à foto anterior, de 1969, a maior mudança é o Edifício Palácio do Comércio, construído no local do antigo prédio da ACIL - Associação Comercial e Industrial de Londrina, no centro da foto.
Os edifícios Júlio Fuganti, em primeiro plano, Centro Comercial e outros, envolvendo a Praça Primeiro de Maio, ao centro. A foto é do final dos anos 70.
A Catedral de Londrina logo após a sua conclusão, em meados dos anos 70.
Vista aérea do centro de Londrina, em 1977.
A Praça Rocha Pombo no início dos anos 70. A Estação Ferroviária estava em plena atividade. Pode-se ver as casas dos funcionários da RFFSA, abaixo do pátio e com frente para a Rua Acre, e os ônibus estacionados abaixo da praça, esperando a vez para subir a Avenida São Paulo e entrar na Rodoviária. A foto foi tirada do alto do Edifício Tóquio.
Outro ângulo da Praça Rocha Pombo, em direção à Rodoviária, no início dos anos 70.
Praça Floriano Peixoto, no final dos anos 60. Ainda não existia o Edifício Frederico Lundgreen, abaixo do edifício do "Relojão", que foi construído no local onde antes se encontrava o Cine Jóia, que foi destruído por um incêndio.
A Rodoviária, vista da Praça Rocha Pombo, anos 70.
A Rua Quintino Bocaiúva, saída para Cambé, nos anos 70.
A Alameda Miguel Blasi, nos anos 70.